Saúde Mental – o que é e como controlar

A saúde mental tem vindo a ganhar cada vez maior importância quando se aborda a saúde pública e particularmente as doenças relacionadas com a população mais idosa. Hoje vive-se mais, mas nem sempre com a qualidade desejável. As doenças mentais, particularmente as doenças degenerativas que se agravam com o passar dos anos, como as demências, eram ignoradas ou desvalorizadas, sendo muitas vezes nem se chegavam a desenvolver. Hoje são comuns numa larga percentagem de idosos, o que levanta novas questões na deteção das mesmas e cuidados associados.

Por isso, se está preocupado com a sua saúde mental, ou dos seus familiares, não está sozinho. Milhões de pessoas fazem as mesmas perguntas: Como posso manter o meu cérebro saudável? O que fazer ao detetar alterações de memória? Como ajudar alguém que sofra de uma doença mental?

saúde mentalNa My Home temos contacto quase diário com pessoas que sofrem de demência. Algumas vezes as famílias não compreendem exatamente o que se está a passar ou por vezes entram em negação e recusam-se a aceitar a situação. Pode ser um processo longo, confuso e frustrante: a demência vai evoluindo, os sintomas alteram-se, as fases sucedem-se e os comportamentos mudam. Não há respostas finais, a adaptação tem de ser permanente para acompanhar as alterações dos clientes.

Mas não tem de ser sempre assim. A sensibilização das pessoas para as questões relacionadas com a saúde mental pretende levar a situações de diagnóstico precoce, para que as terapias disponíveis, cada vez mais desenvolvidas, possam ser utilizadas mais cedo, assegurando uma evolução mais lenta da doença e uma maior e mais prolongada qualidade de vida aos doentes. É de extrema importância que as pessoas de todas as idades e comunidades, mas especialmente os mais idosos, sejam acompanhados frequentemente por um neurologista ou um gerontólogo, para que sejam detetadas quaisquer alterações de memória e/ou comportamentais que possam ser sintomas de um problema de saúde mental.

Existem ferramentas de diagnóstico online, permitindo que, de uma forma simples e rápida, consiga avaliar se está perante um possível cenário de demência. Um exemplo é o BrainGuideTM by UsAgainstAlzheimer’s, uma ferramenta grátis, mas disponível apenas em inglês. Esta plataforma oferece questionários confidenciais, com sugestões para qual o melhor percurso a seguir. É apenas um pré-diagnóstico e não substitui uma opinião especializada, mas pode ser um primeiro passo importante para uma tomada de consciência relativamente a uma possível situação de doença mental.

A crescente preocupação sobre a saúde mental é um esforço global. À medida que os cientistas aprofundam o seu conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, fica também mais claro o que podemos fazer para o manter saudável.

4 passos básicos para controlar a saúde mental:

  1. Procure uma vida saudável, com boa alimentação (nada de excessos), exercício, horas e padrão de sono adequados, stress controlado. Algumas pesquisas indicam que estes fatores reduzem em 40% o risco de Alzheimer ou outras demências.
  2. Exercite o seu cérebro para o manter ativo. Procure jogos, problemas, enigmas que trabalhem o cérebro. Fisiologicamente o cérebro não é um músculo, mas os neurónios quebram-se e são construídos como os músculos. Por isso, precisa de ser exercitado para que fique mais forte e resistente.
  3. Consulte um médico especialista. Uma breve consulta pode descansá-lo quanto à sua saúde mental, ou fazer toda a diferença caso se esteja a desenvolver qualquer problema. Traçar um plano numa fase precoce de uma doença mental pode significar uma diferença de mais de uma década no desenvolvimento dos sintomas e na perda da qualidade de vida. E com a rápida evolução dos tratamentos disponíveis, a possibilidade de retardar ou estagnar os sintomas é cada vez mais real.
  4. Se está preocupado com a situação de algum familiar ou amigo, não tenha receio de falar sobre o assunto. Desperte-os para esta realidade, quebre os tabus e o receio do estigma social. A reação pode não ser a melhor, mas a alternativa de deixar a situação evoluir e piorar será certamente pior.

A importância da comunicação

communication

 

A comunicação com os nossos familiares mais idosos pode ser uma questão bastante difícil. Os laços emocionais raramente facilitam quando temos de abordar situações mais difíceis. Falar sobre a perda de capacidades, restrições e dificuldades dos nossos entes mais queridos é tocar em pontos sensíveis, levando muitas vezes a tensões e desentendimentos que vão tornar mais complicada a tomada das decisões necessárias ao bem estar e segurança dos idosos.

Deixamos alguns pontos a ter em conta para tentar facilitar este processo de comunicação.

 

  1. Recolha informação

Se os seus pais estão perto dos 70 anos, é a altura para começar a observar os comportamentos, atitudes e reações, para recolher informação que possa sustentar a sua abordagem. Não tire conclusões precipitadas nem se baseia numa única observação, seja ponderado e cauteloso. Vai iniciar uma conversa em que provavelmente terá de confrontar os seus pais com as suas debilidades, mas é importante dar início a estas conversas e tentar encontrar soluções consensuais.

Lembre-se que mais vale detetar e enfrentar estas dificuldades mais cedo, antes que a condição física ou neurológica do seus pais sofra uma maior degradação.

 

  1. Inicie a conversa

Envolva os seus pais numa conversa e no processo de discussão e decisão. Fale sobre o que observou e pergunte aos seus pais o que pensam que se pode estar a passar. Se os seus pais reconhecerem que há um problema, pergunte-lhes se já pensaram nalguma solução. Se, pelo contrário, eles rejeitarem que estão com qualquer dificuldade, use a informação para comprovar que algo invulgar se está a passar.

  1. Quanto mais cedo melhor

Não perca tempo se estiver perante uma situação de crise. Por exemplo, se detetar que o seu pai tem falta de visão ou dificuldade em guiar à noite, aborde já esta questão, antes que ocorra um acidente. Lembre-se que é uma situação sensível e que, no final, vai provavelmente pedir a uma pessoa que sempre conduziu para deixar de o fazer. É um reconhecimento de incapacidade, de perda de independência e de necessidade de ajuda que ninguém gosta de enfrentar.

  1. Nunca tenha conversas infantis

Lembre-se que está a falar com adultos, com uma experiência de vida, personalidade formada e vontade própria. Não os trate como crianças, não tente forçar decisões e mostre respeito pela pessoa com quem está a falar. Uma conversa infantil colocará uma pessoa idosa na defensiva e trará mais dificuldades na obtenção de uma solução consensual.

  1.  Maximize a independência

Procure sempre as soluções que deem o maior grau de independência à pessoa idosa. Se é necessária ajuda em casa, tente dar início ao processo através de um pequeno apoio diário, para que haja um processo de habituação à presença de alguém. Para isto também é importante que o apoio tenha início numa fase inicial de dependência, porque permitirá ter este processo progressivo ao mesmo tempo que retarda as fases de maior dependência.

  1. Avalie a situação como um todo

Por vezes há situações que desencadeiam um processo de depressão que pode ter efeitos muito negativos na vida de um idoso. A morte de um cônjuge, por exemplo, é frequentemente seguida por um desleixo nos cuidados pessoais, na limpeza da casa e na alimentação e rotinas diárias. Isto porque a maioria das coisas eram feitas a dois e a partir de agora são tarefas isoladas e que, ainda por cima, trazem recordações pro vezes dolorosas. Assegure-se de que existe um conjunto de amigos, atividades e apoio familiar que mantenham a pessoa equilibrada na vertente social e estável no aspeto físico.

  1. Peça ajuda

Como referimos inicialmente, os laços emocionais nem sempre ajudam neste processo. Os pais têm muitas vezes dificuldade em aceitar sugestões dos filhos, em deixá-los tomar decisões sobre a sua vida. É mais fácil ter uma conversa franca e aberta com um estranho do que os próprios filhos.

 

Na My Home, já passámos por muitas destas situações e podemos colocar esta experiência ao vosso serviço. Se vir que não consegue ultrapassar as dificuldades de comunicação, fale connosco.

Quem sabe se uma visita e conversa com os seus familiares pode ajudar a desbloquear a situação!

Quando optar pelos Cuidados Domiciliários

apoio domiciliário

A esmagadora maioria das pessoas idosas querem continuar a viver nas suas casas enquanto for possível – um estudo efetuado nos Estados Unidos apontava para um valor de 86%.

Mas a primeira experiência neste sentido é muitas vezes incómoda e difícil. Aceitar um cuidador é reconhecer que deixamos de ser independentes, que já não dominamos todas as nossas faculdades e que o nosso espaço e, muitas vezes, a nossa intimidade vão ser “invadidos” por alguém.

Esta resistência à mudança e à presença de um elemento estranho em casa leva a que muitos idosos procurem disfarçar ou ocultar os seus problemas, para que não sejam confrontados pelos familiares – normalmente os filhos – e colocados perante uma escolha que não querem ter de fazer, ou que querem adiar o mais possível.

Se não estiver atento aos detalhes, é muito fácil ser levado a pensar que tudo está bem. Mas se estiver atento a alguns sinais de alerta, pode rapidamente perceber se um familiar está a precisar de ajuda. Mesmo que não queira admitir…

Eis alguns dos principais avisos a que deve estar atento:

  1. As faturas domésticas acumulam-se. O facto de não tratar das contas a horas e deixar acumular despesas é um sinal de que a pessoa está a perder o controle e que a gestão doméstica é uma preocupação demasiada;
  2. Relutância em sair de casa. Quando uma pessoa perde faculdades, tende a isolar-se como mecanismo de defesa. Isso pode-se dever a perdas de audição, visão, memória ou mobilidade. A socialização é um fator extremamente importante para um envelhecimento saudável;
  3. Perda de interesse nas refeições. A solidão reflete-se em vários aspetos da vida e um dos mais habituais é a alimentação. A refeição é uma ocasião social e as pessoas gostam de falar e conviver à mesa. A ideia de cozinhar ou comer sozinho desmotiva as pessoas e leva a que comam mal (comida rápida e fácil de preparar), sem os ingredientes necessários a uma alimentação equilibrada, ou mesmo que não comam de todo. É uma situação muito habitual em quem enviuvou recentemente;
  4. Desleixo na higiene pessoal. A aparência pessoal é um dos sinais mais comuns de que alguma coisa está mal. Uma pessoa que não se penteia ou não toma banho, que não muda de roupa dias a fio ou que usa roupas sujas, estragadas ou inapropriadas para a estação do ano, está claramente a precisar de ajuda e a entrar num processo de falta de amor-próprio e depressão;
  5. Perda da capacidade de conduzir. Os acidentes frequentes, mesmo que sejam apenas pequenos toques ou riscos, as multas que se repetem ou dificuldades em arrumar o carro, tudo pode indicar que a pessoa já não tem capacidade para conduzir e, possivelmente, ter outras dificuldades: falta de visão, dificuldade na mobilidade de pés e mãos;
  6. Sinais de depressão. Sentimentos de desespero, dificuldade em dormir, perda de interesse em atividades habituais, falta de contacto com familiares e amigos, podem ser sinais de que a pessoa está a entrar num estado depressivo;
  7. Ausência de consultas ou eventos sociais. Pode ser por esquecimento, falta de organização ou apenas porque a pessoa não quer sair de casa. Mas a verdade é que a ausência em ocasiões importantes é claramente um sinal de que perdeu a preocupação e a vontade de manter a sua rotina normal;
  8. Casa descuidada. Será fadiga, falta de vontade ou incapacidade física? Uma casa mal cuidada acarreta riscos de segurança e de saúde;
  9. Falhas na medicação. A medicação é um dos fatores mais importantes na manutenção do estado físico e neurológico dos idosos. E é um dos primeiros a falhar, quando as pessoas se descuidam. É muito normal um idoso não tomar a medicação, tomar fora de horas, enganar-se nas doses ou sobrepor medicamentos que não podem ser tomados em conjunto. Basta ver se as compras da farmácia são regulares ou se os comprimidos continuam nas caixas para perceber se alguma coisa está a falhar;
  10. Comida estragada ou fora de prazo. O frigorífico tem comida estragada, guardada em caixas? A dispensa está cheia de comida fora de prazo? Isto pode originar problemas de saúde sérios e é um sinal claro de que a pessoa não tem capacidade nem interesse para organizar a sua alimentação e atividade diária.

Controle periodicamente estes sinais e, na presença de um ou mais indicadores, fale abertamente com o seu familiar e mostre-lhe as vantagens em ter alguém que ajude a minimizar as suas dificuldades. Não deixe a situação arrastar-se: um apoio numa fase mais precoce serve como prevenção para evitar problemas mais sérios num futuro próximo.

 

Alzheimer e outras demências: está preparado para o desafio?

alzheimer

Assistimos a um aumento impressionante dos casos de demência, sendo a mais comum a Doença de Alzheimer. A causa mais óbvia é o aumento da longevidade: as pessoas morriam antes que estas condições se desenvolvessem ou que os sintomas fossem identificados. Muitas vezes os sintomas eram desvalorizados e atribuídos à idade e ao esquecimento próprio do envelhecimento, pelo que o diagnóstico nunca era concretizado.

 

Mas há outros fatores que também são associados a este aumento de casos. A alimentação pouco saudável e “artificial” é apontada como uma das causas. O stress constante e a vida acelerada que levamos também é um fator importante.

 

Mas independentemente das causas, uma das maiores questões que se colocam é se os cuidadores, familiares ou formais, estão preparados para os desafios que vão enfrentar. Cuidar de uma pessoa com demência é uma atividade extremamente absorvente e que exige enormes doses de paciência.

 

É preciso lidar com a perda progressiva de memória, com as constantes repetições de conversas e perguntas, com alterações de humor e personalidade, com a desorientação e comportamentos erráticos e inesperados, com a perda de noções simples como a higiene pessoal ou a deglutição. E, no caso dos familiares, ter o choque de que os cônjuges ou filhos já não são reconhecidos e passaram a amigos ou estranhos.

 

Todos estes aspetos representam uma elevada carga emocional. Está preparado para tudo o que o espera? Temos algumas dicas para si:

  • Compreenda a doença: informe-se, leia sobre a doença, os sintomas e os efeitos. Prepare-se para os próximos passos;
  • Lembre-se: a doença é que dita os comportamentos, não tome nada como pessoal;
  • Entre no mundo do doente: não o corrija, não o contrarie, não entre em choque. Siga o raciocínio dele, mesmo que esteja a falar com pessoas que já não estão entre nós ou que os comportamentos não sejam os mais habituais;
  • Mantenha as rotinas: tente que a pessoa se mantenha ativa e se sinta útil na medida do possível;
  • Seja firme: apenas quando a segurança ou bem-estar dos clientes passam estar comprometidos;
  • Procure apoio: envolva as pessoas mais próximas, família e amigos, para colaborarem no apoio, mesmo que seja com uma visita ocasional. Vai ganhar um momento de descanso, compreensão e respeito pelo seu esforço;
  • Use a comunicação: positiva, verbal e corporal. Fale com calma, num tom moderado. Sorria e tente estar relaxado;
  • Procure ambientes tranquilos: sem ruídos constantes ou elevados, que motivam agitação e ansiedade;
  • Programe a resolução de questões legais e financeiras: procurações, contratos, assinaturas, acesso a contas bancárias e outros bens – para que possa assumir o controle se o doente deixar de ter essa capacidade.

Quem cuida dos cuidadores?

cuidadoresA vida de um cuidador é dedicada à assistência a outras pessoas. Seja como cuidador informal ou numa tarefa remunerada, para a maior parte dos cuidadores o apoio é uma missão, é dar o seu melhor para ajudar alguém que precisa, estar presente na altura certa, manter a dignidade de quem entra em situação de dependência mais ou menos profunda.

 

Mas esta atividade, por muito que seja feita com todo o coração e dedicação, e por mais que proporcione uma sensação de satisfação plena, provoca um grande desgaste. Nem sempre há um sentimento de reconhecimento ou gratidão por tudo o que o cuidador dá de si no processo de cuidar de alguém.

 

Mais de 40% dos cuidadores apresentam sinais de stress e ansiedade. Perto de 25% sentem desgaste físico, principalmente com queixas de dores nas costas. Quase 20% revelam sintomas de depressão. Tudo se conjuga para que grande parte dos cuidadores acabem por ter uma baixa qualidade de vida, problemas de saúde, falta de tempo para si, privação de sono e uma sensação de geral de grande responsabilidade e muito pouco apoio. Os cuidadores informais têm ainda de gerir os seus empregos, família e vida social. Pode ser uma tarefa esmagadora.

 

Por tudo isto, é muito importante que os cuidadores tenham atenção às suas próprias necessidades. Um cuidador que cuide de si próprio – física e emocionalmente – será um cuidador mais apto para cuidar de alguém.

 

O primeiro passo para lidar com o stress do cuidador é reconhecer os sintomas mais comuns. Estes são alguns dos sinais que revelam que alguma coisa pode não estar bem:

 

De ordem física:

  • Distúrbios de sono, insónia;
  • Tensão muscular, dores nas costas, ombros e pescoço;
  • Dores de cabeça;
  • Problemas digestivos;
  • Perda ou ganho de peso;
  • Queda de cabelo e irritações de pele;
  • Fadiga, constipações frequentes (sistema imunitário enfraquecido).

 

No plano psicológico:

  • Ansiedade, depressão;
  • Alterações frequentes de humor;
  • Irritação, frustração;
  • Problemas de memória e falta de concentração;
  • Insatisfação geral;
  • Recurso fora do normal a substâncias (comprimidos para dormir, antidepressivos).

 

Se sente alguns dos sinais acima identificados, considere fortemente falar com um profissional de saúde – médico ou psicólogo – que o poderá ajudar a avaliar a sua situação. Não sinta vergonha ou desconforto em falar sobre este tema. Mesmo se estiver a cuidar de um familiar e quase lhe pareça uma obrigação, isso não evita que o desgaste se vá acumulando. Nem o cuidador nem a pessoa de quem cuida terão qualquer benefício se o cuidador adoecer.

 

Cuide de si, para cuidar melhor dos outros!

9 ideias erradas sobre o envelhecimento

envelhecer“O que imaginamos que vai acontecer, irá mesmo acontecer.”

No que respeita ao envelhecimento este ditado é mais verdadeiro do que muitos julgam. Investigadores da universidade de Yale descobriram que as pessoas que possuem ideias positivas sobre o envelhecimento vivem em média 7,5 anos adicionais.

Por ideias positivas considera-se a sabedoria, auto-realização, satisfação, ser-se importante e forte… Em oposição a ideias negativas como a inutilidade e desvalorização. O Journal of the American Medical Association diz ainda que os idosos que pensam positivamente sobre a idade avançada possuem mais 44% de probabilidade de recuperar de uma deficiência temporária.

Quando pensamos em idade avançada temos tendência a imaginar um abrandamento. Imaginamos uma pessoa a dormitar numa cadeira de baloiço. Assumir o estado mental das pessoas idosas com base nas nossas próprias experiências é uma falácia que acaba por propagar equívocos sobre o envelhecimento.

 

  1. As pessoas mais velhas não estão interessadas ​​no mundo exterior.

O grupo pertencente à faixa etária dos 65-70 utiliza bastante a internet. Longe de serem espectadores passivos, muitas destas pessoas ainda se interessam pelo mundo. Muitas estão envolvidas com faculdades e universidades que planearam programas para seniores ou para adultos que queiram ocupar os seus tempos livres. E muitas pessoas, seja por opção ou necessidade, ficam envolvidas com o trabalho para além da idade de reforma.

 

  1. As pessoas mais velhas não querem ou precisam de sociabilizar.

Somos criaturas sociais. A necessidade de relacionamentos significativos não muda com a idade. No entanto, pode haver menos pessoas com as quais nos relacionarmos à medida que envelhecemos, e pode haver barreiras físicas e mentais que surgem com a idade.

 

  1. As pessoas mais velhas contribuem pouco para a sociedade.

Com anos de habilidades pessoais e experiência profissional, os adultos mais velhos são altamente valorizados como funcionários e colegas, bem como voluntários.

 

  1. Quando se envelhece, fica-se menos flexível relativamente à forma de fazer as coisas.

As pessoas mais idosas tendem a ter altos níveis de resiliência mental. A capacidade das gerações mais velhas de responder à adversidade foi demonstrada muitas vezes. Por exemplo, na marinha britânica foi criado um programa para encorajar a interação entre os marinheiros mais jovens e os mais idosos para estes partilharem habilidades como autoconfiança e autossuficiência.

 

  1. Deterioração física e mental é inevitável ​​na terceira idade.

Há uma certa diminuição de capacidades à medida que envelhecemos, mas há muito que se pode fazer para evitar (ou pelo menos adiar) os processos de envelhecimento físico e mental. Células estaminais perdem algum do seu potencial e as outras células enfraquecem, mas hábitos saudáveis amenizam o processo. Exercício físico ajuda a reter músculo e integridade óssea e a melhorar a capacidade cognitiva.

Exercitar o cérebro e aprender continuamente ajuda a combater a deterioração cognitiva. Ver demasiada TV é pouco saudável em qualquer idade, mas é particularmente mau para os idosos que frequentemente vêem a sua geração a ser estereotipada como fraca, esquecida, irritadiça e confusa. Demasiada TV perpétua esse estereótipo.

 

  1. As pessoas mais velhas não estão interessadas ​​em sexo ou intimidade.

Relações sexuais positivas estão associadas ao bem-estar geral. Não é claro qual destes factores é que controla o outro, mas os benefícios mútuos são reais.

A actividade sexual pode continuar durante toda a vida. Embora a maior parte dos adultos de maior idade tenham afirmado que o sexo se torna menos importante, apenas 35% disse que o sexo era apenas para casais e menos de 10% disse que sexo é apenas para os jovens. As mulheres afirmam mais frequentemente que o sexo é menos importante, e também possuem mais dificuldade em encontrar parceiro uma vez que os homens geralmente morrem mais cedo.

 

  1. As pessoas mais velhas não conseguem tomar boas decisões sobre questões importantes.

A idade traz sabedoria. Habilidades cognitivas são baseadas numa vida inteira de experiência e educação.  Quer seja uma decisão de saúde, financeira ou qualquer outra coisa relacionada com a pessoa, deve sempre envolvê-la nas decisões que lhe dizem respeito.

 

  1. Os mais velhos perdem a vontade de viver.

Os mais velhos podem aceitar a morte quando sentem que têm controlo sobre ela. A maior parte das pessoas desejam um ambiente confortável e seguro. As pessoas devem querer viver e viver bem. Salvo algumas circunstâncias especiais, ninguém mentalmente são deseja encurtar a vida.

 

  1. A ciência já respondeu a todas as nossas questões sobre o envelhecimento.

Ainda temos muito a aprender. À medida que conseguimos viver mais e melhor, irão surgir ainda mais questões que nos irão fazer procurar por respostas.

A relação dos Cuidadores Informais e do Apoio Domiciliário

Cuidadores e Apoio DomiciliárioSer cuidador é uma tarefa de grande responsabilidade, entrega e amor.

 

Normalmente os cuidadores entregam-se aos seus utentes de forma total, motivados pelo carinho que sentem e por um espírito de missão. Mas com o tempo, esta é uma atividade de grande desgaste e que pode ter um peso tremendo nos cuidadores. Aquilo que era feito de coração aberto, pode tornar-se um fardo e uma obrigação por força do cansaço físico e, principalmente, psicológico do cuidador. Uma coisa é certa, em todos os casos, o cuidador tende a anular-se, a não pensar em si mesmo, a fazer da sua vida uma entrega completa a outra pessoa.

 

Estima-se que existam em Portugal mais de 1,4 milhões de cuidadores informais a tempo inteiro, entre pessoas que cuidam de idosos, de pessoas com demência ou com doenças crónicas e de crianças com patologias graves.

 

É uma atividade que valerá quase 333 milhões de euros por mês, se considerarmos o valor económico das horas de trabalho dos cuidadores informais, que cuidam de dependentes em casa sem serem remunerados. Temos, portanto, que 10% da população portuguesa está em funções de cuidador informal.

 

O Estatuto de Cuidador Informal apenas foi aprovado em 2019, ainda em projeto piloto, tendo sido necessário esperar até 2022 para ser finalmente publicado o Decreto Regulamentar que estabelece os termos e as condições do estatuto. Apesar do avanço e alguns benefícios que este Estatuto trouxe, continua a ser muito diferente cuidar de alguém quando se tem dinheiro para ter ajuda externa permanente e apoio psicológico sem ter de olhar a custos e acesso público; ou estar sozinha na luta, a lidar com a sobrecarga e a desorientação consequente, com um mísero, ou nenhum, apoio do Estado.

 

Sendo uma situação recente, não é de admirar que apenas pouco mais de 1% de todos os cuidadores informal tenha o Estatuto. É um processo moroso e complexo, o que leva a que muita gente desista antes de o terminar. E mesmo para aqueles que conseguiram o Estatuto de Cuidador Informal, o apoio proporcionado pelo Estado não ultrapassa, em média, os 300€.

 

Os cuidadores informais são maioritariamente mulheres, normalmente sem poderem contar com qualquer apoio. Continua a ser a mulher da família a ter a cargo os membros dependentes e isto convém ao Estado, que assim não tem que criar tantos mecanismos para pessoas dependentes de ajuda. Claro que isto não invalida que haja pessoas que escolham intencionalmente cuidar dos seus familiares, mas isso não significa que tal não traga repercussões enormes à sua vida. Eis alguns dados importantes para avaliarmos o impacto desta atividade na vida dos cuidadores:

 

  • 83,3% dos cuidadores informais admitem ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento;
  • 78,5% concordam que o seu estado de saúde mental influencia o desempenho do seu papel de cuidador informal;
  • Cerca de metade dos inquiridos não são capazes de rir e ver o lado positivo como antes;
  • 77,9% reconhecem a necessidade de apoio psicológico, mas menos de metade destes procuram e usufruem deste apoio;
  • 37,4% perderam a vontade de cuidar de si.

 

Não há soluções fáceis ou milagrosas para esta questão. Mas, ano após ano, vemos as atenções do Estado a continuarem no aumento das camas de internamento e nas redes de lares, quando a melhor forma de cuidar destas pessoas é, sempre que possível, mantê-las em casa. E isso é o que elas, numa grande maioria, realmente querem. As pessoas cuidadoras informais sentem culpa por saírem de casa, já que passam a ter a perceção de que o objetivo da sua vida é cuidar de outra pessoa. É mais do que aceitável, é necessário, um cuidador informal tirar tempo para cuidar de si mesmo, de forma a lidar com a sobrecarga que é cuidar de alguém a tempo inteiro. Se o cuidador não se cuida, acaba por ser ele/a a precisar de cuidados.

 

Para além da tendência para descuidarem de si mesmas, as pessoas cuidadoras informais também veem as consequências negativas da condição de cuidadoras na sua vida pessoal. Há um botão de pausa que é pressionado, sem data breve prevista para desbloqueio. Este sentimento de dedicação de vida a outrem não termina com o falecimento da pessoa cuidada. Se, anteriormente, a vida da pessoa cuidadora estava centrada no cuidado de outra pessoa, é natural que se siga uma sensação de falta de sentido de vida. Nesta transição, é necessário realçar a importância do apoio psicológico.

 

O Apoio Domiciliário privado é uma das ferramentas que poderia ser utilizada para minimizar estes impactos na vida dos cuidadores informais, desde que olhado com maior abrangência e com outros apoios. Apenas uma pequena parte das famílias tem capacidade para suportar os custos associados e mesmo quando tem algum apoio financeiro (através da ADSE, SAMS ou outros sistemas semelhantes), o valor deste apoio é mínimo.

 

Em muitos países europeus, o valor do Apoio Domiciliário privado já é comparticipado pelo Estado em valores que podem ultrapassar os 50% do valor mensal contratado. Não sendo provavelmente viável atingir estes patamares, seria muito importante que existisse um estudo sério e independente sobre os custos inerentes a uma estadia numa instituição e o valor necessário para manter uma pessoa em casa, com apoio externo e todas as condições para uma existência digna, confortável e no seu ambiente de sempre, junto dos seus familiares. Por outro lado, isto iria ajudar a regulamentar um setor de atividade ainda muito assente em particulares, sem contrato ou recibo, saindo assim do controle financeiro do Estado – aquilo que normalmente se designa por “economia paralela”. Se as famílias recebessem apoios por parte do Estado na contratação de entidades reconhecidas, certamente teriam muito maior apetência para contratar os serviços a uma empresa em vez de optarem por um trabalho não tributado.